O ÚLTIMO DIA
Um homem andava a reclamar de sua vida, nada o satisfazia, tudo o que tinha não bastava. Sentia um vazio devastar seu interior, dizia sempre que as pessoas o magoavam a ponto de se afastar de todas elas.
Nada podia conter aquele processo que se estendia e consumia sua alma. A vida dele estava sempre cheia de problemas dos mais diversos, não tinha tempo para os amigos e nem para si mesmo. Dizia sempre que levava uma vida muito dura. Tudo era não, não posso, não tenho tempo, o que vão pensar, o que vão dizer de mim. E assim seguia aquele problemático homem em sua vida, escravo de si mesmo, aprisionado em seus pensamentos críticos, tolhendo cada sentimento, barrando cada aproximação. Sisudo, mal olhava ao seu redor, apressado e obcecado pelo ter, mal sabia que o pior ainda viria. Certa vez, começou a sentir fortes dores em suas pernas, o que lhe fez buscar tratamento e o diagnóstico veio rápido e avassalador: estava com uma doença grave nos ossos. Ao saber do seu estado, olhou ao seu redor e viu que não tinha ninguém com quem pudesse contar, não tinha um amigo; estava só. Foi, então, que refletiu:
“Por que fiz isso comigo, como pude? Eu deixei de viver, de dançar, de ir à praia, de sentir alegrias, de rir, por medo de ser ridículo, pensando sempre no que iriam dizer de mim, deixei de viver. Só eu posso conduzir a minha vida da maneira que eu desejar e não da maneira que querem ou que esperam que eu o faça”.
A reflexão daquele homem durou horas, dias, meses, ele não percebia que agora perdia tempo com lamentações, ao invés, de viver a vida da maneira como sempre sonhou, estava sempre pensando e pensando e nada fazia para mudar seus velhos hábitos.
Um dia, caminhando pela manhã, parou diante do mar, o dia estava ensolarado e ficou a admirar tudo a sua volta, lentamente tirou seus sapatos e começou a sentir a fina areia invadindo seus pés. “Que sensação gostosa”. Sentiu o vento a soprar seu rosto e o calor do sol a esquentar seu corpo, tudo passou a ser novo diante de seus olhos, sentiu uma enorme alegria invadindo seu interior, esqueceu dos problemas e sem lamento caiu em profundo desfrute. Sentia a brisa do mar e se alegrava por estar livre de seus preconceitos, agora a ousadia tomava contar do seu ser, parecia renascer.
Embora tardia, a vontade que sentia era simplesmente viver. Sozinho, descobriu muitas coisas, principalmente que a solidão é um estado de espírito e gritava: “Posso senti-la ou não”. Então, optou: “Não estou só, eu faço companhia a mim, hoje farei tudo para me fazer feliz!”
Começou a pular, a sentir as ondas do mar, cantar, sem perceber as fortes dores que sentia, até cair; ali ficou de costas na areia, olhando para o céu azul, um sorriso tomou conta de sua face, sentiu seu sopro de vida suavizar, lentamente, até seus olhos cerrar.
Pobre homem, foi-se. Tardiamente, fez-se feliz!
Salette Granato
12/01/09
SALETTE GRANATO
Enviado por SALETTE GRANATO em 02/03/2009