A BATERIA
“Papai, papai, pai, pai!” .
Já gritando, Carlinhos, de quatro anos, chama insistentemente, tentando acordar seu pai que ainda dormia depois de uma noite de exaustivo trabalho. Assustado, seu pai acorda:
“O que foi Carlinhos, o que você quer?”.
“Nada, eu só queria que você acordasse, estou me sentido muito sozinho!”
“Você não está sozinho, seu irmão está com você!”
“Meu irmão só quer saber de videogame, eu estou sozinho, vai, levanta pai!” Insistia Carlinhos com aquele jeitinho que ninguém ousaria recusar seu pedido.
Vencido pelas argumentações do filho, o Pai levanta e vai fazer companhia a Carlinhos, mal sabendo o que lhe esperava. Brinca daqui, bola dali, carrinhos acolá, quando é surpreendido novamente pelo filho:
“Papai, sabe aquele potinho... aquele em cima da geladeira e que eu não alcanço? Então... eu mexi lá hoje.”
“Como assim? Como pegou o potinho?” Pergunta o pai, já na expectativa do que poderia vir.
“Então... eu peguei um banquinho, empurrei pertinho da geladeira, peguei o potinho e achei duas “pilhinhas”.
“Carlinhos, você sabe que não pode fazer essas artes, aonde estão as “pilhinhas”?”
O pai de Carlinhos mal sabia o que viria e até então, achava que a situação estava sob controle.
“Então...papai, eu chupei as duas e quando uma delas ficou ruim eu cuspi!”
“Você chupou as “pilhinhas”? Meu Deus!” O pai já muito nervoso começou a pensar no pior.
“Aonde estão as “pilhinhas”?”
“Uma está aqui.” Entregando a pequena bateria ao seu pai.
“E a outra, a outra, aonde está?” Muito nervoso pergunta o pai já com medo do que Carlinhos pudesse responder, mas foi dito e feito:
“Então...quando eu cuspi uma, a outra eu engoli.”
“Meu Deus!” Exclamou o pai, já desesperado e estático.
O pai de Carlinhos, não sabia que atitude tomar, não sabia se ligava para a mãe ou para o pediatra, a criança aparentava estar bem e continuava a contar a sua façanha.
“Então...depois que eu chupei as “pilhinhas” eu comi os dois bombons que estavam perto do potinho, você vai brigar comigo porque eu comi os bombons, papai?”
“Claro que não, eu preferia que você tivesse comido apenas os bombons e deixado as “pilhinhas”. Como você está se sentido, bem?”
“Eu estou bem, só que a “pilhinha” está na minha barriga!”
O pai, já atarantado ligou para o pediatra, o que lhe deixou mais apavorado:
“Dr. meu filhinho engoliu uma bateria para carrinho, o que eu devo fazer?”
“Meu Deus, isso é uma emergência, leve-o imediatamente ao Pronto-Socorro!”
O pai pegou a sua esposa no trabalho e rapidamente voou para o Pronto-Socorro mais próximo, lá chegando o médico fez Raios-X. A mãe, ansiosa, controlava o pranto e aguardava a decisão do médico.
“É, vocês tiveram sorte, os bombons que Carlinhos comeu ajudaram a empurrar a bateria que já está no começo do intestino. Agora é só esperar, o pior já passou”.
Carlinhos ao ver o Raios-X ficou impressionado:
“Olha, papai a minha “pilhinha” virou um disquinho voador na minha barriga!”.
Voltando para casa, já mais calmos começaram a conversar sobre o ocorrido.
“Já é difícil você parar quieto, agora com uma carga de energia na sua barriga, acho que vai ser impossível! E o pior... sabe o que é o pior? Nós ainda vamos ter que revirar as suas... até encontrar a sua “pilhazinha”. Eca! Eu não vou fazer isso não... você devia ter comido só os bombons, como pode fazer isso com a gente? Agora eu não saio mais da sua cola!” Comenta o irmão mais velho de Carlinhos, não conformado com o fato de ter que esperar Carlinhos expelir a bateria.
Vinte e quatro horas depois:
“Eu achei, eu achei!”. Grita o pai ao encontrar a bateria, já enferrujada.
“Dormir e te largar nem pensar!” Disse o pai abraçando Carlinhos carinhosamente, afinal dormiu em sentinela.
Salette Granato
14/10/08
SALETTE GRANATO
Enviado por SALETTE GRANATO em 14/10/2008